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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Texto escrito em 2005

Encontrei nesse instante um texto que escrevi em 02/11/2005. É um texto que fala da Graça de Deus. Não me lembro ao certo, mas provavelmente nessa época eu era acadêmico de teologia na Faculdade de Teologia Batista de São Luis, um curso puxado, de segunda a sexta-feira, mas muito proveitoso. E devia ter uns vinte anos de idade. 
Certamente hoje eu o escreveria com algumas alterações, sem contudo tocar na essência. A seguir o transcrevo como um convite à reflexão.

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Eu sempre costumo dizer que a graça nos coloca no chão de um mundo real. E isso implica dizer que nesse mundo real, necessárias são as respostas coerentes à realidade da vida, ao tempo em que as respostas prontas (fabricadas em série) às questões existenciais da vida não são satisfatórias; 

logo, negar as respostas formuladas pela religião (entenda-se aqui religião como um fenômeno institucionalizado e diverso da Verdade do Evangelho da Graça) é o caminho para a liberdade de aprender a responder a si mesmo no percurso da auto-revelação de Deus de Si mesmo, ou seja: somente à medida que eu conheço a Deus é que torno-me capaz de conhecer a mim mesmo como parceiro de vida após ver em Deus uma parceria construída na compreensão de Seu amor incondicional. Entendido? Deixe-me explicar melhor.

Pela graça fomos reconciliados com Deus, “e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Paulo aos Éfesos). Éramos inimigos de Deus, mas em Seu ato de graça, pela redenção, fomos feitos amigos Seus.

Porém, uma coisa a ser absorvida é que após o homem ser reconciliado e feito amigo de Deus pela fé na Graça (esta significa 'favor imerecido'), ele passa a ter os pré-requisitos para reconciliar-se consigo mesmo, à medida que pela compreensão de Deus, como fruto e decorrência, ele – o homem – passa a compreender melhor a si mesmo e a vida.

Uma das grandes carências da/na "igreja" (cristã de um modo em geral - católica ou protestante), é que ela unificou a alma ao espírito, desprezando assim que o homem para viver bem na vida, além de compreender que Deus o aceitou sem virtude própria, precisa aprender a conviver e aceitar-se como indivíduo, mesmo que não haja motivos (justiça) para isso em sua alma (estado humano). Elevou-se importância dada à espiritualidade, preterindo sem razão os cuidados necessários à condição humano-psicológica-corruptível.

E agora explico melhor ainda o que quis dizer com ‘mundo real’. É que a graça não nos isenta das realidades que este mundo oferece. Neste mundo há “demônios” de todo tipo, ou seja: euforia e anseios; lágrimas e lutas; lutos e fadigas; brigas e reconciliações; encantamentos e desencantamentos; aprendizados e tribulações; amores e perdas; conquistas e fracassos; medos e superações; virtudes que se seguem de desvirtudes... melancolia, estresse, raiva, tristezas de morte, depressão... Afinal, esse é o mundo real. E nele muitas vezes é do abismo que somos catapultados aos céus mais elevados na Graça!. Nisto consiste nossa salvação (espiritualidade a partir de baixo no dizer de Anselm Grun, da alma).

Ora, quando essa compreensão é aceita, o mundo deixa de ser um lugar onde sou tentado, e passa a ser o lugar onde eu vivo. Não sou tirado do mundo, sou livre do mal (Jo 21). E isto só acontece quando se entende que esse “mal” nasce, antes de tudo, dentro daqueles para quem todas as coisas são impuras (Mt 6:22).

Somente a Graça torna todas as coisas puras, para os puros. E é apenas quando a vida é desdemonizada que se pode experimentar a plenitude de cada circunstância, sem nos deixarmos tomar pelo des-prazer de ter de levar um inimigo dentro de nós mesmos. Ao contrário, a consciência da graça intensifica as experiências de paz e liberdade. Melhor que qualquer êxtase provocado. "Embriagados sem vinhos" no dizer de Santo Agostinho.


“Negar a si mesmo” não tem nada haver com mortificação do ser como a “igreja” ao longo das épocas ensinou e continua, tampouco com a repressão da existência e dos impulsos, mas sim com a pretensão de achar que a virtude humana nos valida ao trono da graça.

Negar a si mesmo é morrer na nossa morte (ideia de achar que possamos fazer algo por nós mesmos no que tange a nossa salvação), na nossa miserabilidade de barganhar com o Santo; é entender que "não há nada mais que possamos fazer para que Deus nos ame mais, ao mesmo tempo que não há nada mais que possamos fazer para que Deus nos ame menos" (Philip Yancey, em O Deus invisível).
Negar a si mesmo é morrer para nossa justiça própria; é perder nossa vida (auto confiança justificadora) afim de achá-la. Em decorrência disso, o ‘ser humano’ volta ao seu direito de ser ‘ser humano’, pois permitiu que Deus tomasse o lugar de Deus em sua vida.

A graça é o acordo de paz entre Deus e o homem; o homem e o ser; o ser e a vida.

A graça é o ofício-professor que nos ensina a viver e a encontrar respostas reais num mundo real.

Fazer as pazes consigo é o passo posterior de um relacionamento com Deus, e é o passo anterior a um relacionamento com o próximo e à vida.

Pensem nisso!

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